Você já mediu sua pressão ou pesou um pacote nos Correios? Nestes casos, realizamos uma medição para conhecer o valor de nossa pressão ou do peso do pacote. No entanto, uma dúvida permanece após a realização da medição, mesmo quando esta é realizada com instrumentos confiáveis e calibrados. Essa dúvida é conhecida como incerteza de medição. Embora faça parte do cotidiano de laboratórios, indústrias e de muitas decisões envolvendo riscos que afetam a sociedade, o conceito ainda é mal compreendido por quem não atua diretamente na área técnica.
Com o objetivo de tornar este conceito mais claro, direto e acessível, o Grupo de Trabalho 1 do Comitê Conjunto para Guias em Metrologia (JCGM-WG1) aprovou uma nova definição de incerteza de medição. A proposta deverá constar nas próximas versões dos documentos internacionais promovidos e atualizados por este grupo de trabalho.
Para explanar essa atualização conceitual, Gregory Kyriazis, servidor do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), conduziu nesta quarta-feira (19/11) uma apresentação on-line voltada a diversas áreas da instituição que utilizam ou avaliam a incerteza de medição. A iniciativa teve como objetivo fortalecer a capacitação interna e promover a integração de conhecimentos, contribuindo para a atuação coordenada do Inmetro.
Segundo Kyriazis, a nova definição é mais simples e direta: “incerteza de medição é a dúvida sobre o valor do mensurando que permanece após a realização de uma medição”. Mensurando é o nome que se dá à grandeza que se deseja medir.
Na prática, significa reconhecer que, mesmo após medir, ainda existe uma margem de dúvida. Não porque os instrumentos estejam incorretos, mas porque nenhum processo de medição é absolutamente perfeito.
Por exemplo, se uma balança indica que determinado pacote pesa 2,000 kg, a nova abordagem conceitual nos permite, por exemplo, dizer que o valor do peso do pacote provavelmente se encontra entre 1,995 kg e 2,005 kg. Fica então mais claro para consumidores, empresas, fiscais e profissionais de diversas áreas o significado dessa margem de dúvida e sua relevância para a confiabilidade dos resultados de medição.
Incerteza de medição é hoje definida no Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM) como um “parâmetro não negativo que caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a um mensurando, com base nas informações utilizadas”. Embora tecnicamente correta, essa definição é menos intuitiva, sobretudo para públicos não especializados. A nova definição valoriza tanto o rigor técnico quanto a clareza e a comunicação.
Além de facilitar a compreensão, a proposta também oferece uma vantagem conceitual: define a incerteza de medição como um conceito, e não como um parâmetro numérico específico.
Significa que a incerteza de medição representa a dúvida remanescente sobre o valor da grandeza e pode ser expressa por diferentes métodos: por uma distribuição de probabilidade para o valor da grandeza, por um intervalo desta distribuição no qual se encontra o valor da grandeza com uma dada probabilidade, ou mesmo por um parâmetro numérico específico, conforme a necessidade da aplicação. Isso torna a abordagem mais versátil, transparente e alinhada às práticas atuais e futuras da metrologia.
Entretanto, a proposta ainda não foi aceita pelo Grupo de Trabalho 2 do Comitê Conjunto para Guias em Metrologia (JCGM-WG2), que é responsável pela promoção e atualização do VIM. Este grupo de trabalho considera que a nova definição seria de difícil implantação tendo em conta a regra de substituição usada na definição dos termos do vocabulário. Ademais, considera também a palavra “dúvida” muito subjetiva para ser incorporada na definição de um termo técnico.
A comunidade científica e tecnológica brasileira é convidada a refletir sobre a nova definição de incerteza de medição adotada pelo JCGM-WG1.
Sobre o JCGM-WG1
O Grupo de Trabalho 1 do Comitê Conjunto para Guias em Metrologia (JCGM-WG1) é o grupo internacional responsável pela promoção e atualização do Guia para Expressão da Incerteza de Medição e seus suplementos. Estes documentos são utilizados em todo o mundo. Traduções destes documentos estão disponíveis no portal do Inmetro.
São membros deste grupo de trabalho: Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), Comissão Eletrotécnica Internacional (IEC), Federação Internacional de Química Clínica e Medicina Laboratorial (IFCC), Cooperação Internacional de Acreditação de Laboratórios (ILAC), Organização Internacional para Padronização (ISO), Organização Internacional de Metrologia Legal (OIML), União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) e União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP).
Sobre o JCGM-WG2
O Grupo de Trabalho 2 do Comitê Conjunto para Guias em Metrologia (JCGM-WG2) é o grupo internacional responsável pela promoção e atualização do Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM). Este documento reúne os principais termos técnicos usados na metrologia, ou seja, a ciência das medições. Seu objetivo é fornecer um vocabulário unificado, que permita comunicação precisa, evite dúvidas e garanta que todos compreendam os termos técnicos da mesma forma. É uma referência global e está presente no trabalho de laboratórios, certificadores, reguladores, indústrias, institutos de pesquisa e universidades. Uma tradução deste documento está disponível no portal do Inmetro. Os membros deste grupo de trabalho são os mesmos citados acima.
Sobre o Inmetro
O Inmetro, como instituto nacional de metrologia participante do Acordo de Reconhecimento Mútuo do Comitê Internacional de Pesos e Medidas (CIPM MRA), atua na divulgação dos documentos desenvolvidos pelos dois grupos de trabalho do Comitê Conjunto de Guias em Metrologia (JCGM), ajudando a aplicar no Brasil suas orientações e a levar a experiência brasileira para as discussões internacionais.
















